Antes uma alternativa barata para substituir a carne, produto também entra na ciranda da alta geral

Se o preço da carne bovina assusta os consumidores, o valor de uma dúzia de ovos não fica atrás. Em um ano, o custo do produto no atacado subiu mais de 10% – e claro que o aumentou chegou ao bolso do consumidor.

Como resultado, ficou complicado até mesmo trocar o bife por um simples ovo frito. A culpa da alta, segundo especialistas, é da redução da quantidade de aves nas granjas em decorrência do aumento n preço da ração e das exportações de ovos, fatores que reduzem a oferta e, consequentemente, fazem subir os preços.

Com o dólar favorável, os produtores aproveitam para vender ao Exterior. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Unicamp, a cotação do produto no campo nunca esteve tão elevada quanto neste ano.

Uma nota técnica da instituição aponta que os preços dos ovos tipos extra brancos e vermelhos são os maiores já registrados na série histórica Segundo os especialistas do Cepea, os preços estão em elevação desde o começo do ano.

Na nota, eles apontaram que o motivo para a alta seriam a intensificação dos descartes de poedeiras já programados para janeiro. “Os preços elevados do milho e farelo de soja aceleram o interesse dos produtores em reduzir o plantel menos produtivo”, dizem os pesquisadores.

Outra justificativa seria o aumento das exportações desde junho de 2015. Segundo as informações do Cepea, no ano passado foram exportadas 771,3 mil caixas com 30 dúzias de ovo in natura, quantidade 58% superior ao volume de 2014.

De acordo com os técnicos da instituição, só em janeiro deste ano as vendas para outros países já somaram 92,8 mil caixas, crescimento de 25% em relação a dezembro do ano passado.

O dólar alto é um fator que impulsiona as exportações do produto – que ajudam a diminuir a disponibilidade no mercado interno.

E os preços podem subir ainda mais por causa da Quaresma, quando muitos consumidores deixam de comer carne, e com a volta às aulas.

Os dados do Cepea mostraram que em Bastos, principal região produtora do País, a caixa com 30 dúzias do ovo tipo extra branco era vendida por uma média de R$ 79,23 no último dia 12. O valor estava 14% acima de igual período do ano passado. Já o ovo tipo extra vermelho tinha um valor médio de R$ 93,38 a caixa, uma alta de 10,4% em 12 meses.

Saídas

A saída para economizar é pesquisar bastante antes de comprar e aproveitar as promoções – que, por impensável que pudesse parecer há algum tempo, entraram na lista das ofertas dos supermercados.

Na última semana, por exemplo, uma grande rede enviou uma mensagem por celular a seus clientes cadastrados oferecendo ovos com 30% de desconto para quem fizesse a compra usando o cartão de crédito da empresa.

Já os comerciantes de menor porte não têm muita escolha a não ser repassar o aumento aos seus clientes. Foi o que fez o comerciante Denilton Antonio da Silva, do tradicional Mercadinho Campineiro, na Rua Barão de Jaguara. Seus fornecedores reajustaram o preço dos ovos em até 20%. “Mas mesmo assim não notei queda nas vendas. O consumo do ovo continua o mesmo, talvez porque os aumentos sejam ainda maiores do que os registrados nos outros alimentos”, disse. Edna Barche, aposentada de 66 anos, não gostou dos aumentos – mas também não abre mão dos ovos. “Em casa, ovo não pode faltar. É a mistura que salva quando não tem carne”, disse.

Como ela também costuma fazer doces e bolos, o ovo é mesmo indispensável na geladeira.

Quaresma

Os comerciantes e os consumidores já sabem que na época da Quaresma e da Semana Santa, os preços dos ovos também costumam aumentar um pouco – e não deve ser diferente este ano.

Segundo Roberto Mekaru, de 40 anos, comerciante do box do Mercado Campineiro, os clientes já se acostumaram com os reajustes nesta época – e mesmo assim, ele acredita que a tendência é de alta nas vendas, já que a carne vermelha é normalmente substituída por ovos e peixes.

“Antes do final do ano eu vendia a dúzia por uma média de R$ 5,00. Agora, está a R$ 6,40. Não tive como não repassar o aumento que veio dos produtores”, afirmou.

Na casa de Aparecida de Oliveira, de 65 anos, as cartelas com 30 ovos são consumidas em uma semana. “Tento encontrar o local com o melhor preço. No mercadinho do meu bairro, ainda consigo pagar R$ 12,00 na cartela com duas dúzias e meia. Em dezembro, estava R$ 10,00”.

Já é a segunda vez neste ano que as distribuidoras repassaram o aumento para o varejo. Atualmente, o preço da dúzia varia entre R$ 6,30 e R$ 6,80 para ovos brancos e vermelhos tamanho “jumbo” e R$ 6,00 para os tamanho “extra”.

Fonte: Correio Popular